Se julgamos o valor de uma vida com os critérios da eficácia, da produtividade, da economia, a sociedade vai ser logicamente levada a suprimir as pessoas deficientes que, não somente não são rentáveis, mas custam caro porque necessitam de muita atenção.
- Assim sendo, nós podemos testemunhar que muitos dentre eles trazem ao mundo outras riquezas: a simplicidade, a verdade, a autenticidade, a capacidade de encontrar o outro, uma fé tão simples e muitas vezes contagiante. Mesmo quando se trata de uma pessoa profundamente ferida, ela permanece uma pessoa única, sedenta de amor e capaz de amar. Para nós cristãos, acreditamos que é também uma pessoa criada à imagem de Deus, chamada a partilhar um dia a Sua Glória e em quem, desde hoje, agrada-Lhe fazer a Sua morada.
- Nós estamos diante uma escolha: ou vamos continuar a encorajar uma selva na qual suprimimos o fraco, ou vamos construir um mundo de comunhão. Aí cada um tem um lugar e o seu dom insubstituível.
- Aquele que é pequeno, desperta o melhor de nós mesmos, chama-nos a amar e a nos doar.
Diante da pessoa deficiente e face às nossas reações para com ela, lembremo-nos: “Nós valemos o que vale o nosso coração”.
Testemunho
Hemiplégica desde o meu nascimento por causa de uma negligência da parteira, tenho hoje 48 anos. Felizmente, esta deficiência não me impediu de amar a vida, de seguir normalmente os meus estudos e de ter várias atividades. Também não hesitava em correr riscos que no meu estado teriam sido proibidos, ao ponto de apanhar o trem em andamento quase todas as manhãs para chegar ao cursinho na hora! Mas guardava no fundo do coração um sentimento de rancor contra essa pessoa que tinha me tornado enferma. Senti um apelo à vocação religiosa e entrei na ordem da Visitação em 1970. Um ano depois, minha perna foi amputada. Nova dificuldade a superar. O meu sentimento de revolta contra essa pessoa crescia cada vez mais… Neste momento já não posso utilizar aparelhos. A minha enfermidade aumenta dia após dia e eu vivo continuamente numa cadeira de rodas. Mas Deus é muito forte porque, há alguns meses, consegui perdoar no meu coração a esta pessoa, graças à meditação de dois artigos sobre a humildade que vinham na revista “Il est Vivant”. A partir desse momento, descobri a minha vida tal como ela é, magnífica, e experimento uma incomparável paz interior. Eu me pergunto se, sem a minha deficiência, eu teria podido fazer tal experiência da proximidade de Deus. Sim, a vida, por muito difícil que por vezes possa ser, vale absolutamente a pena ser vivida, e eu convido a todos para o meu centenário que eu morro de desejo de festejar. Irmã Claude-Noelle |
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